Possessividade-Impulsiva-Visual
- James Almeida
- 5 de mai. de 2020
- 2 min de leitura
Engraçado como a gente se sente dono das pessoas depois que se envolve sentimentalmente à elas, não é mesmo? Ainda mais se carregamos traumas do passado, os constantes e repetitivos hematomas emocionais ligados à mesma situação. Vez ou outra me pego fuçando o presente e o passado de alguém, e me envolvo intensamente nessa viagem aos registros, quase inteiramente virtuais, de momentos da vida de um ser humano. Entre fotos, legendas e comentários datados, meus olhos expressam as mais diversas reações, com meu coração reagindo, inevitavelmente, ao que observo em uma tela de cristal líquido. É. As pessoas colocam muito de si na internet.
Curioso é, quando é alguém que eu não tenho laços psicológicos tão intensos, a situação é como uma brisa tenra de uma praia deserta ao amanhecer. Não enruga nem um músculo da face com a sua existência; não faz diferença. Todavia, se o alvo for aquela flecha que marcou um X no meu coração, a cicatriz começa a latejar. Imerjo em momentos daquele alguém como se eu estivesse lá no dia e no local daquele registro, leio comentários e descrições como se Fulano e Beltrano estivessem ressonando aquelas palavras com suas próprias vozes... E aí, então, caio numa piscina gelada de emoções ligadas ao que já se foi ou ao que não deveria sequer estar sendo feito caso de.
Ah, como somos torpes... Imaginamos mil e uma coisas através de letras e fotos. Nem sabemos o que ao certo aconteceu, o que gerou aquela situação ali mostrada, de forma congelada e constante aos nossos globos oculares, e já estamos liberando hormônios precoces que espancam nosso corpo como um pugilista endemoniado. Sentimos muitas vezes que temos o pseudodireito de chorar ou odiar o passado de alguém, principalmente daqueles que só conhecemos a partir de um determinado ponto da nossa vida. A gente se interessa por aquele indivíduo mais e mais, afinal, a atração é ascendente como uma colina linda e verde, e nos envolvemos indiscretamente com o que já está varrido para debaixo do tapete do inquilino do nosso coração. As lágrimas escorrendo no rosto não mentem: queremos que o inquilino fique mais e mais, porém a gente não pode tranca-lo nessa casinha de ventrículos e artérias, e ainda, usando um contrato com uma data que não volta mais.
O que as pessoas foram, não importa mais. Liberte-as do seu passado, permita-as crescer, melhorar. Viva o hoje e construa o amanhã com quem você quer, realmente, glorificar o seu futuro novo passado. Porque tudo um dia, será história. E a gente não é dono nem do tempo e nem das pessoas.
Quem quer, fica.
Originalmente de 13/JAN/2020, 04:06.
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