Embróglio
- James Almeida
- 13 de jan. de 2020
- 2 min de leitura
Eu não sei que reunião é essa, mas tem um monte de gente aqui. Gente grande, gente pequena. Magro, gordo, velho, criança. Gente que já não pisa mais com os pés de carne: apenas voa com as asas que ganhou ao sair do rosa para o cinza. Mas também tem moçoilos que ainda estão nascendo o bigode, e o sangue circula muito bem.
Não consigo me sentar junto a eles, e mesmo que eu peça ajuda às mulheres, elas não conseguem me estender a mão e dar atenção. Quando podem, ora são repreendidas pelos velhos, ora simplesmente são ignoradas no grau de sua importância nesse imbróglio todo.
Então eu fico no meu canto. Saindo fumaça da cabeça. Sabe, bem devagarzinho, porque, da vez que a tampa da cachola subiu ao céu, a reunião acabou, e eu fui enxotado aos trancos e barrancos, com vergonha de existir. É, não deveria ter nem dado o sinal da existência: quem sabe, o bate-boca não teria desandado da forma que foi naquela vez.
Todos os dias eu venho aqui. Nunca vi o dono do lugar, acho que ele deve estar ocupado ou... morreu. Ou se perdeu. Sei que ninguém de fora fica por aqui: quando entra, logo sai. Deve ficar atordoado com a zona que é isto. Se bem que, tem dias que tá todo mundo sentado, em silêncio. Desfrutando do silvo fúnebre do vento.
Todos já me disseram coisas. E cada um, de uma forma, uma coisa diferente. Não sei se querem que eu vá embora ou fique; se eu calo ou se eu falo; se eu olho ou escuto; se eu rio ou choro. Olha, se decidam, porque, uma andorinha não faz verão, e no jogo dos indecisos, o idiota é só mais um.
Quando eu vou embora, nem digo "até mais ver". Eu sei que, uma hora ou outra, eu vou estar aqui de novo. Ainda tenho fé de que alguém vai resolver esse parangolé todo e me proteger.
Senão, todo mundo vai embora, eu apago a luz, e, descansemos em paz, finalmente.
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